O Grupo de Estudos sobre Imaginário, Sociedade e Cultura e o PPGCom da Famecos trazem quinta-feira, dia 30, Alan West-Durán, professor de cultura e literatura latino-americana e caribenha da Universidade de Northeastern na cidade de Boston. Nascido em Cuba e criado em Porto Rico, West-Durán sempre demonstrou em sua trajetória como pesquisador, poeta, tradutor e crítico sua origem caribenha com diversos livros sobre a cultura latina. Radicado nos Estados Unidos, com doutorado em línguas e literatura latino-americana e brasileira, o professor versará sobre sua atual pesquisa que tem como tema a religião afro-cubana Regla de Ocho, e o uso dos espaços na transformação do cotidiano para o sagrado.
A palestra será quinta-feira às 14h, na sala 301 do prédio 07 na PUCRS.
segunda-feira, 27 de abril de 2009
A morte no jornalismo televisivo: uma análise da cobertura do Jornal Nacional ao caso do vôo 3054 da TAM
Por Michele Negrini
Resumo
Este artigo tem como objetivo analisar o tratamento dado à morte na cobertura do telejornal brasileiro Jornal Nacional, apresentado pela Rede Globo de Televisão, ao acidente com o vôo 3054 da TAM, ocorrido em São Paulo (Brasil), no dia 17 de julho de 2007. No acidente morreram cerca de 200 pessoas. Também observamos como o JN abordou questões ligadas à tragédia, como a ênfase às dimensões destruidoras do acidente, a exaltação das emoções e do sofrimento dos parentes das vítimas e da sociedade, a reação das testemunhas do ocorrido, o acompanhamento do processo de reconhecimento dos corpos das vítimas e possíveis explicações para a ocorrência do caso. Tomamos como objeto de estudos a edição do telejornal que foi ao ar no dia 18 de julho de 2007. O estudo tem como bases teóricas reflexões sobre o campo jornalístico, que são embasadas por autores como Pierre Bourdieu e Nelson Traquina, e discussões sobre acontecimento jornalístico, com bases em Adriane Duarte Rodrigues. Apresentamos, também, reflexões sobre a morte e sobre a sua presença contundente nos meios de comunicação. Nelson Traquina aponta que a morte é um valor-notícia importante para o jornalismo. A morte é um tema com diversas interpretações, as quais estão muito ligadas com cada cultura. Como a morte é um tema bastante polêmico, pode-se dizer que a cobertura do Jornal Nacional ao acidente com o avião da TAM se deu de forma simplista, sem nenhuma preocupação com os espectadores e com as famílias das vítimas que foram expostas no ar.
http://conferencias.ulusofona.pt/index.php/sopcom_iberico/sopcom_iberico09/paper/view/403
Resumo
Este artigo tem como objetivo analisar o tratamento dado à morte na cobertura do telejornal brasileiro Jornal Nacional, apresentado pela Rede Globo de Televisão, ao acidente com o vôo 3054 da TAM, ocorrido em São Paulo (Brasil), no dia 17 de julho de 2007. No acidente morreram cerca de 200 pessoas. Também observamos como o JN abordou questões ligadas à tragédia, como a ênfase às dimensões destruidoras do acidente, a exaltação das emoções e do sofrimento dos parentes das vítimas e da sociedade, a reação das testemunhas do ocorrido, o acompanhamento do processo de reconhecimento dos corpos das vítimas e possíveis explicações para a ocorrência do caso. Tomamos como objeto de estudos a edição do telejornal que foi ao ar no dia 18 de julho de 2007. O estudo tem como bases teóricas reflexões sobre o campo jornalístico, que são embasadas por autores como Pierre Bourdieu e Nelson Traquina, e discussões sobre acontecimento jornalístico, com bases em Adriane Duarte Rodrigues. Apresentamos, também, reflexões sobre a morte e sobre a sua presença contundente nos meios de comunicação. Nelson Traquina aponta que a morte é um valor-notícia importante para o jornalismo. A morte é um tema com diversas interpretações, as quais estão muito ligadas com cada cultura. Como a morte é um tema bastante polêmico, pode-se dizer que a cobertura do Jornal Nacional ao acidente com o avião da TAM se deu de forma simplista, sem nenhuma preocupação com os espectadores e com as famílias das vítimas que foram expostas no ar.
http://conferencias.ulusofona.pt/index.php/sopcom_iberico/sopcom_iberico09/paper/view/403
sábado, 25 de abril de 2009
Cronograma Grupo GEPETEC 2009/1
13/04 (2ª) às 17h - Valci Zuculoto.
Definição do cronograma de apresentações, sistematização dos encontros, propostas de trabalho. Troca de experiências acadêmicas e profissionais. Diálogo sobre expectativas em relação ao grupo de pesquisa, ao mestrado ou doutorado.
24/04 (6ª) às 19h - Valéria Marcondes.
11/05 (2ª) às 17h - Fernando Cibelli.
22/05 (6ª) - às 19h - Angela Dellazzana.
08/06 (2ª) às 17h - Michele Negrini, Ane Aguiar.
26/06 (6ª) - às 19h - Eduardo Ritter, Fábio Raush.
13/07 (2ª) às 17h - Mariângela Machado; Marta Tejera, Sérgio Trein.
Definição do cronograma de apresentações, sistematização dos encontros, propostas de trabalho. Troca de experiências acadêmicas e profissionais. Diálogo sobre expectativas em relação ao grupo de pesquisa, ao mestrado ou doutorado.
24/04 (6ª) às 19h - Valéria Marcondes.
11/05 (2ª) às 17h - Fernando Cibelli.
22/05 (6ª) - às 19h - Angela Dellazzana.
08/06 (2ª) às 17h - Michele Negrini, Ane Aguiar.
26/06 (6ª) - às 19h - Eduardo Ritter, Fábio Raush.
13/07 (2ª) às 17h - Mariângela Machado; Marta Tejera, Sérgio Trein.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
TV X Internet na visão de Dominique Wolton
A análise é convertida em polêmica quando entra em cena o pensamento crítico de Dominique Wolton, primeiramente em “Internet e depois” (WOLTON, Dominque -Sulina 2007) e num segundo momento quando o objeto de análise é “É preciso Salvar a Comunicação” (WOLTON, Dominque - Paulus 2006). O objeto de análise do pensador francês está sempre vinculado às questões globais da comunicação, suas variáveis sociológicas e as implicações tecnológicas. Tomemos como ponto de partida para o diagnóstico, concebido por Wolton, a partir de “Internet e Depois”.
“A comunicação é o cerne de modernidade, isto é, inseparável deste lento movimento de emancipação do indivíduo...” (WOLTON – Sulina 2007, p 10) primeiro aspecto: ele pontua que sua pesquisa visa diferenciar objetivamente as chamadas mídias generalistas ou tradicionais (a TV e o rádio) das novas tecnologias, notadamente, a convergência tecnológica, a qual culminou com o surgimento da web. Para Wolton, sua pesquisa está calcada em uma Teoria da Comunicação em que os aspectos sociais devem necessariamente sobrepujar o paradigma tecnológico, que para ele, Wolron, não tem
como funcionar como carro-chefe na superação das mazelas sociais.
Nesse sentido, Wolton considera inoportuna e equivocada a corrente de pensamento que coloca os avanços tecnológicos protagonizados pelas novas formas de produção de informação por meio da fusão da informática com a telecomunicação, notadamente a internet, como elemento-chave dos avanços econômicos e sociais. Para tanto, Wolton lança o desafio em favor de uma compreensão sobre o que ele define como “estatuto da comunicação”. A primeira provocação é a seguinte: se a comunicação é um tema antigo da humanidade, à luz do progresso tecnológico, a explosão das técnicas modificou a natureza desse estatuto.
O avanço tecnológico e sua capacidade de transformar as regras da comunicação inquieta ainda mais Wolton. Então ele relaciona uma série de questionamentos: a evolução tecnológica é capaz de revolucionar o conteúdo da informação e da comunicação da mesma forma como ocorreu na invenção dos tipos móveis e da imprensa?
Se o estatuto da comunicação como aponta Wolton é a maneira como os homens se comunicam e se a comunicação se entrelaça, com os demais processos de desenvolvimento, ele repele ou tenta desencorajar a tese de que a mola propulsora do processo social seja a tecnologia. Qualifica de ‘tecnicistas’ aqueles que comungam dessa visão e duvida do poder e potência das tecnologias para produzir alterações nesse processo contínuo, o qual demarca o surgimento da modernidade. Outra provocação; a internet é superior a televisão?
Aliás, esse é o objeto principal diagnosticado em “Internet e Depois”. A internet é uma mídia de massa? Wolton responde que não. Esse é o campo do rádio e da TV, das denominadas mídias generalistas. A convergência tecnológica permite que o computador, faça às vezes do jornal, da TV, do rádio, da biblioteca. Substitui o telefone. Porém cria um paradoxo ao transformar o receptor em portador da mensagem, no debulhador da informação que será agora acessada na troca de endereços de URL, de FTP e protocolo IP. A troca de papéis entre codificador e decodificador parece igualmente produzir inquietação. A formatação desse debate incomoda Wolton.
Ele adverte que existe uma opinião do conhecimento controlada por três segmentos: os empreendedores, os jornalistas e os políticos. Com isso, surge um desafio teórico no sentido desmanchar esse oligopólio, pois nenhum desses campos está interessado em conduzir uma reflexão sobre a comunicação a partir de uma lógica do conhecimento (WOLTON-2007, p.13).
Como inexiste espaço para os demais atores sociais, Wolton provoca em tom de apelo para que não tentem fazer os pesquisadores sociais pensarem a partir da lógica dos empresários. Esse é um ponto fundamental. Para Wolton, a academia deve promover o debate de maneira independente. “Em todo caso que não se peça para um pesquisador pensar como um empresário, político ou jornalista”.
Wolton não teme ser qualificado como integrante da vertente de tecnofóbica ao reconhecer que no atual momento do debate acadêmico provavelmente esteja reunido numa corrente minoritária. Aquela que afirma que a tecnologia não é o elemento essencial da comunicação. O alicerce da comunicação em Wolton são as características culturais e os aspectos sociais. A tecnologia, sobretudo a de última geração, é coadjuvante do conhecimento.
Com efeito, ele sinaliza os três objetivos principais contidos em “Internet e Depois”: contribuir para uma revalorização da Teoria da Comunicação; defender a televisão como mídia essencial na preservação da democracia; acionar o alarme para a Europa, “Berço da teoria da comunicação” e para ele no momento, atravessando uma crise de identidade, a qual conduz o Velho Continente para a trilha do modelo comunicacional, produzido pela indústria cultural montada nos Estados Unidos. Wolton defende a regulamentação da informação e da comunicação. Afirma não ser possível construir um espaço democrático para a comunicação de massa por meio de uma desregulamentação completa do sistema. Na sua visão, a comunicação sem intermediários do presente pode ser o combustível de conflitos do futuro. A Europa será assimilada pelos Estados Unidos, se não houver uma ruptura com relação ao rumo agora dotado. “Não há dúvida de que, amanhã, a comunicação ‘mundializada’ será fator de conflitos, como o foram as matérias-primas, as colônias e o petróleo, desde cento e cinqüenta anos atrás”. (WOLTON-2007, p. 20).
Diante do exposto o estatuto da comunicação pressupõe uma ruptura com a idéia de desregulamentação e impõe a contrapartida de uma regulamentação contra “a tirania das novas tecnologias”. Em outras palavras Wolton, critica aqueles que fazem uso de argumentos tecnológicos e desprezam a importância da comunicação como ciência social aplicada.
Ele pontua: “Até agora, aliás, a grande maioria das teorias políticas, inclusive as mais democráticas tem notavelmente ignorado a problemática da comunicação. Todos esse debate não pode ser visto como um ataque à liberdade, mas como proteção da mesma”. (WOLTON-2007, p. 22). “Internet e Depois” conduz o leitor a um debate teórico, com o qual o autor produz uma demarcação histórica no “coração da modernidade”. Todos os eventos tecnológicos neste aspecto notadamente causam impacto. Se a internet produz o frisson da segunda metade do século XX até os primeiros anos da linha centenária que começa, rupturas importantes foram verificadas por ocasião do aparecimento do telefone, do rádio e da televisão.
Não foi diferente nos séculos anteriores com o aparecimento da imprensa e da consolidação do jornal como precursor dos meios de comunicação de massa. A especificidade das tecnologias do século XX, está relacionada com sua capacidade em transmitir som e imagem por meio físico ou por ondas magnéticas, as quais viajam no espaço e alteram nossa percepção do tempo. A difusão dos meios de comunicação de massa, nesse sentido, se combina claramente com a confirmação do sufrágio universal como recurso político capaz de consolidar o estado democrático de direito. (WOLTON-2007 p, 31).
Internet e Depois proclama um paradoxo estrutural para comunicação. Ainda que tenha funcionado como mola propulsora de avanços, sua importância não conquistou a legitimidade alcançada por outras ciências humanas e proclama que por conta dos defensores da web as mídias de massa são o alvo fácil de seus detratores e de toda a forma de manipulação. Ao passo que atravessamos um período histórico dominado pela “má comunicação”. (WOLTON-2007, p. 38). De tal maneira que ergueu-se no tecido social uma resistência coletiva em reconhecer o lugar, a importância e a emergência da teoria da comunicação, pontuada por Wolton em dez razões.
1) o mito da onipotência e da manipulação, o qual atingiu a imprensa do século XIX; 2) A dificuldade de análise em que o ponto de partida é complexidade intrínseca de se compreender a fenomenologia entre emissor, mensagem e receptor, já que a cada nova técnica surge um discurso novo para demarcar esse entrelaçamento entre os três elementos básicos da comunicação; 3) não existe uma vontade coletiva de entender essas mutações; 4) há uma idéia de onipresença da tecnologia; 5) É perceptível a resistência intelectual com relação ao surgimento das mídias generalistas, notadamente o rádio e a televisão, as quais provocaram o avanço da cultura de massa; 6) dificuldade teórica de agregar as questões de natureza psicológica, filosófica e literária, associadas comunicação clássica e os efeitos provocado nessas, pelas novas tecnologias; 7) Dificuldade de entender a impossibilidade de produção de um processo comunicacional neutro; 8) demanda fraca por conhecimento por parte do tecido social; 9) a amplitude da união das elites, dos políticos e dos jornalistas em torno das novas tecnologias; 10) A mais forte das resistências fica por conta do público, capaz de formar sua opinião e de manter sua característica de fidelidade ao processo social proporcionado pela televisão e passando por cima da análise produzida no campo das elites. (WOLTON-2007, p. 51, 52, 53).
Entusiasmado com os efeitos que a televisão pode proporcionar como sistema de comunicação de massa, finalmente Wolton lança mão de três exemplos em que a telinha opera como sistema de aglutinação, de pacificação popular e de reafirmação de democracia. Cita o papel da TV pública na África do Sul durante a retransmissão das reuniões de trabalho da comissão “verdade e conciliação”, a qual foi responsável pela pacificação popular pós-Apartheid.
Ele atribui à Rede Globo no Brasil, papel fundamental como instituição direta de democracia por seu poder de penetração. Elogia a influência das transmissões da TV italiana, as quais mobilizaram a população daquele país, por ocasião da operação mãos limpas, em que promotores de justiça numa investigação sem precedentes, conseguiram interligar a relação promíscua entre o estado italiano, o poder econômico e o crime organizado. (WOLTON-2007, p. 64).
Finalmente, ao concluir “Internet e Depois” Wolton pontua que seu objetivo com esse trabalho é diminuir a pressão exercida pelas novas tecnologias sobre a comunicação. Para tanto, define exatamente o que seja comunicação no âmbito de seu entendimento pessoal com base em seu pensamento teórico: a comunicação como ideal de expressão da sociedade ocidental é o conjunto de mídias de massa; é também o conjunto de novas tecnologias; pressupõe a existência de indivíduos livres e iguais. Finalmente, a comunicação compreende o conjunto de valores, os símbolos e as representações que organizam o espaço público. (WOLTON-2007, p. 206).
Em “É preciso salvar a comunicação”de forma resumida podemos reencontrar a vertente crítica de Wolton. Como transformar a comunicação numa ferramenta de reafirmação democrática e de ocupação igualitária do espaço público. Essa é sua primeira preocupação. Primeiro ponto: a aldeia global de Marshall McLuhan é uma realidade na dimensão sociológica de Wolton. Diante de tal afirmação, compreender a comunicação como elemento estrutural dessa atomização das relações humanas é capital. É elementar acionar os mecanismos de reafirmação democrática como variável a qual deverá conduzir o processo de reconciliação da vertente econômica e técnica da comunicação com a sua amplitude social. "Salvar a comunicação é antes de tudo preservar sua dimensão humanista". (WOLTON, Paulus-2006, p 10).
Na aldeia global a circulação crescente da informação requer a manutenção das identidades para que os cidadãos assegurem a preservação da geografia intelectual e cultural. Pensar a sociedade aberta é não apenas reconhecer a incomunicação e repensar a coabitação cultural, mas também reconhecer a necessidade de referências. Portanto significa sair do fluxo, organizar, aceitar a existência de uma incomunicação pode ser entendido como um sistema dialético no sentido de organizar e salvar a comunicação (WOLTON, Paulus-2006, p 10).
Em resumo engendra-se um ciclo de incomunicação-coabitação que não anula a comunicação. (WOLTON, Paulus-2006, p 147). Com efeito tais contradições se manifestam numa revanche da geografia. Lembremos a guerra da antiga Iugoslávia no coração da Europa, o infindável conflito entre Índia e Paquistão, ou conflitos tribais nos grandes lagos da África ou na Costa do Marfim.
Na ótica de Wolton a Teoria da Comunicação, é a relação entre informação e comunicação. Seu papel na construção do processo democrático é imprescindível. Salvar a comunicação é entender o alcance limitado das ideologias calcadas apenas na razão tecnológica, formato de debate que a globalização tomou para si a tarefa de vulgarizar. Fernando Cibelli de Castro
Referências bibliográficas
Internet e Depois: uma teoria crítica das novas mídias, (WOLTON, Dominique, 10, 12. 13, 20, 22, 31, 38, 51, 52, 53. 64, 206);
É preciso salvar a comunicação (WOLTON, Dominique, 10, 147).
“A comunicação é o cerne de modernidade, isto é, inseparável deste lento movimento de emancipação do indivíduo...” (WOLTON – Sulina 2007, p 10) primeiro aspecto: ele pontua que sua pesquisa visa diferenciar objetivamente as chamadas mídias generalistas ou tradicionais (a TV e o rádio) das novas tecnologias, notadamente, a convergência tecnológica, a qual culminou com o surgimento da web. Para Wolton, sua pesquisa está calcada em uma Teoria da Comunicação em que os aspectos sociais devem necessariamente sobrepujar o paradigma tecnológico, que para ele, Wolron, não tem
como funcionar como carro-chefe na superação das mazelas sociais.
Nesse sentido, Wolton considera inoportuna e equivocada a corrente de pensamento que coloca os avanços tecnológicos protagonizados pelas novas formas de produção de informação por meio da fusão da informática com a telecomunicação, notadamente a internet, como elemento-chave dos avanços econômicos e sociais. Para tanto, Wolton lança o desafio em favor de uma compreensão sobre o que ele define como “estatuto da comunicação”. A primeira provocação é a seguinte: se a comunicação é um tema antigo da humanidade, à luz do progresso tecnológico, a explosão das técnicas modificou a natureza desse estatuto.
O avanço tecnológico e sua capacidade de transformar as regras da comunicação inquieta ainda mais Wolton. Então ele relaciona uma série de questionamentos: a evolução tecnológica é capaz de revolucionar o conteúdo da informação e da comunicação da mesma forma como ocorreu na invenção dos tipos móveis e da imprensa?
Se o estatuto da comunicação como aponta Wolton é a maneira como os homens se comunicam e se a comunicação se entrelaça, com os demais processos de desenvolvimento, ele repele ou tenta desencorajar a tese de que a mola propulsora do processo social seja a tecnologia. Qualifica de ‘tecnicistas’ aqueles que comungam dessa visão e duvida do poder e potência das tecnologias para produzir alterações nesse processo contínuo, o qual demarca o surgimento da modernidade. Outra provocação; a internet é superior a televisão?
Aliás, esse é o objeto principal diagnosticado em “Internet e Depois”. A internet é uma mídia de massa? Wolton responde que não. Esse é o campo do rádio e da TV, das denominadas mídias generalistas. A convergência tecnológica permite que o computador, faça às vezes do jornal, da TV, do rádio, da biblioteca. Substitui o telefone. Porém cria um paradoxo ao transformar o receptor em portador da mensagem, no debulhador da informação que será agora acessada na troca de endereços de URL, de FTP e protocolo IP. A troca de papéis entre codificador e decodificador parece igualmente produzir inquietação. A formatação desse debate incomoda Wolton.
Ele adverte que existe uma opinião do conhecimento controlada por três segmentos: os empreendedores, os jornalistas e os políticos. Com isso, surge um desafio teórico no sentido desmanchar esse oligopólio, pois nenhum desses campos está interessado em conduzir uma reflexão sobre a comunicação a partir de uma lógica do conhecimento (WOLTON-2007, p.13).
Como inexiste espaço para os demais atores sociais, Wolton provoca em tom de apelo para que não tentem fazer os pesquisadores sociais pensarem a partir da lógica dos empresários. Esse é um ponto fundamental. Para Wolton, a academia deve promover o debate de maneira independente. “Em todo caso que não se peça para um pesquisador pensar como um empresário, político ou jornalista”.
Wolton não teme ser qualificado como integrante da vertente de tecnofóbica ao reconhecer que no atual momento do debate acadêmico provavelmente esteja reunido numa corrente minoritária. Aquela que afirma que a tecnologia não é o elemento essencial da comunicação. O alicerce da comunicação em Wolton são as características culturais e os aspectos sociais. A tecnologia, sobretudo a de última geração, é coadjuvante do conhecimento.
Com efeito, ele sinaliza os três objetivos principais contidos em “Internet e Depois”: contribuir para uma revalorização da Teoria da Comunicação; defender a televisão como mídia essencial na preservação da democracia; acionar o alarme para a Europa, “Berço da teoria da comunicação” e para ele no momento, atravessando uma crise de identidade, a qual conduz o Velho Continente para a trilha do modelo comunicacional, produzido pela indústria cultural montada nos Estados Unidos. Wolton defende a regulamentação da informação e da comunicação. Afirma não ser possível construir um espaço democrático para a comunicação de massa por meio de uma desregulamentação completa do sistema. Na sua visão, a comunicação sem intermediários do presente pode ser o combustível de conflitos do futuro. A Europa será assimilada pelos Estados Unidos, se não houver uma ruptura com relação ao rumo agora dotado. “Não há dúvida de que, amanhã, a comunicação ‘mundializada’ será fator de conflitos, como o foram as matérias-primas, as colônias e o petróleo, desde cento e cinqüenta anos atrás”. (WOLTON-2007, p. 20).
Diante do exposto o estatuto da comunicação pressupõe uma ruptura com a idéia de desregulamentação e impõe a contrapartida de uma regulamentação contra “a tirania das novas tecnologias”. Em outras palavras Wolton, critica aqueles que fazem uso de argumentos tecnológicos e desprezam a importância da comunicação como ciência social aplicada.
Ele pontua: “Até agora, aliás, a grande maioria das teorias políticas, inclusive as mais democráticas tem notavelmente ignorado a problemática da comunicação. Todos esse debate não pode ser visto como um ataque à liberdade, mas como proteção da mesma”. (WOLTON-2007, p. 22). “Internet e Depois” conduz o leitor a um debate teórico, com o qual o autor produz uma demarcação histórica no “coração da modernidade”. Todos os eventos tecnológicos neste aspecto notadamente causam impacto. Se a internet produz o frisson da segunda metade do século XX até os primeiros anos da linha centenária que começa, rupturas importantes foram verificadas por ocasião do aparecimento do telefone, do rádio e da televisão.
Não foi diferente nos séculos anteriores com o aparecimento da imprensa e da consolidação do jornal como precursor dos meios de comunicação de massa. A especificidade das tecnologias do século XX, está relacionada com sua capacidade em transmitir som e imagem por meio físico ou por ondas magnéticas, as quais viajam no espaço e alteram nossa percepção do tempo. A difusão dos meios de comunicação de massa, nesse sentido, se combina claramente com a confirmação do sufrágio universal como recurso político capaz de consolidar o estado democrático de direito. (WOLTON-2007 p, 31).
Internet e Depois proclama um paradoxo estrutural para comunicação. Ainda que tenha funcionado como mola propulsora de avanços, sua importância não conquistou a legitimidade alcançada por outras ciências humanas e proclama que por conta dos defensores da web as mídias de massa são o alvo fácil de seus detratores e de toda a forma de manipulação. Ao passo que atravessamos um período histórico dominado pela “má comunicação”. (WOLTON-2007, p. 38). De tal maneira que ergueu-se no tecido social uma resistência coletiva em reconhecer o lugar, a importância e a emergência da teoria da comunicação, pontuada por Wolton em dez razões.
1) o mito da onipotência e da manipulação, o qual atingiu a imprensa do século XIX; 2) A dificuldade de análise em que o ponto de partida é complexidade intrínseca de se compreender a fenomenologia entre emissor, mensagem e receptor, já que a cada nova técnica surge um discurso novo para demarcar esse entrelaçamento entre os três elementos básicos da comunicação; 3) não existe uma vontade coletiva de entender essas mutações; 4) há uma idéia de onipresença da tecnologia; 5) É perceptível a resistência intelectual com relação ao surgimento das mídias generalistas, notadamente o rádio e a televisão, as quais provocaram o avanço da cultura de massa; 6) dificuldade teórica de agregar as questões de natureza psicológica, filosófica e literária, associadas comunicação clássica e os efeitos provocado nessas, pelas novas tecnologias; 7) Dificuldade de entender a impossibilidade de produção de um processo comunicacional neutro; 8) demanda fraca por conhecimento por parte do tecido social; 9) a amplitude da união das elites, dos políticos e dos jornalistas em torno das novas tecnologias; 10) A mais forte das resistências fica por conta do público, capaz de formar sua opinião e de manter sua característica de fidelidade ao processo social proporcionado pela televisão e passando por cima da análise produzida no campo das elites. (WOLTON-2007, p. 51, 52, 53).
Entusiasmado com os efeitos que a televisão pode proporcionar como sistema de comunicação de massa, finalmente Wolton lança mão de três exemplos em que a telinha opera como sistema de aglutinação, de pacificação popular e de reafirmação de democracia. Cita o papel da TV pública na África do Sul durante a retransmissão das reuniões de trabalho da comissão “verdade e conciliação”, a qual foi responsável pela pacificação popular pós-Apartheid.
Ele atribui à Rede Globo no Brasil, papel fundamental como instituição direta de democracia por seu poder de penetração. Elogia a influência das transmissões da TV italiana, as quais mobilizaram a população daquele país, por ocasião da operação mãos limpas, em que promotores de justiça numa investigação sem precedentes, conseguiram interligar a relação promíscua entre o estado italiano, o poder econômico e o crime organizado. (WOLTON-2007, p. 64).
Finalmente, ao concluir “Internet e Depois” Wolton pontua que seu objetivo com esse trabalho é diminuir a pressão exercida pelas novas tecnologias sobre a comunicação. Para tanto, define exatamente o que seja comunicação no âmbito de seu entendimento pessoal com base em seu pensamento teórico: a comunicação como ideal de expressão da sociedade ocidental é o conjunto de mídias de massa; é também o conjunto de novas tecnologias; pressupõe a existência de indivíduos livres e iguais. Finalmente, a comunicação compreende o conjunto de valores, os símbolos e as representações que organizam o espaço público. (WOLTON-2007, p. 206).
Em “É preciso salvar a comunicação”de forma resumida podemos reencontrar a vertente crítica de Wolton. Como transformar a comunicação numa ferramenta de reafirmação democrática e de ocupação igualitária do espaço público. Essa é sua primeira preocupação. Primeiro ponto: a aldeia global de Marshall McLuhan é uma realidade na dimensão sociológica de Wolton. Diante de tal afirmação, compreender a comunicação como elemento estrutural dessa atomização das relações humanas é capital. É elementar acionar os mecanismos de reafirmação democrática como variável a qual deverá conduzir o processo de reconciliação da vertente econômica e técnica da comunicação com a sua amplitude social. "Salvar a comunicação é antes de tudo preservar sua dimensão humanista". (WOLTON, Paulus-2006, p 10).
Na aldeia global a circulação crescente da informação requer a manutenção das identidades para que os cidadãos assegurem a preservação da geografia intelectual e cultural. Pensar a sociedade aberta é não apenas reconhecer a incomunicação e repensar a coabitação cultural, mas também reconhecer a necessidade de referências. Portanto significa sair do fluxo, organizar, aceitar a existência de uma incomunicação pode ser entendido como um sistema dialético no sentido de organizar e salvar a comunicação (WOLTON, Paulus-2006, p 10).
Em resumo engendra-se um ciclo de incomunicação-coabitação que não anula a comunicação. (WOLTON, Paulus-2006, p 147). Com efeito tais contradições se manifestam numa revanche da geografia. Lembremos a guerra da antiga Iugoslávia no coração da Europa, o infindável conflito entre Índia e Paquistão, ou conflitos tribais nos grandes lagos da África ou na Costa do Marfim.
Na ótica de Wolton a Teoria da Comunicação, é a relação entre informação e comunicação. Seu papel na construção do processo democrático é imprescindível. Salvar a comunicação é entender o alcance limitado das ideologias calcadas apenas na razão tecnológica, formato de debate que a globalização tomou para si a tarefa de vulgarizar. Fernando Cibelli de Castro
Referências bibliográficas
Internet e Depois: uma teoria crítica das novas mídias, (WOLTON, Dominique, 10, 12. 13, 20, 22, 31, 38, 51, 52, 53. 64, 206);
É preciso salvar a comunicação (WOLTON, Dominique, 10, 147).
Assinar:
Postagens (Atom)